quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Retratos. Desinocência.

Os dias irresponsáveis haviam chegado ao fim. Foi isso que ela pensou ao encarar o próprio reflexo no espelho da penteadeira vitoriana. Seu rosto havia se tornado mais sério assim tão subitamente? Assim... tão adulto? Os olhos escuros que se encaravam haviam perdido algum brilho qualquer, que estava ligado à sua tenra mocidade. Os cabelos curtos, castanho-escuros, meio desalinhados haviam sido cortados rigidamente retos à linha do queixo, e embora normalmente cabelos curtos deixem o rosto mais jovial, indicavam, no caso dela, o total oposto. Os dias irresponsáveis haviam chegado ao fim. Era preciso apenas uma leve tensão para mostrar as linhas de estresse que haviam se formado em seu rosto ainda, ironicamente, jovem.

Ela, aquela pequena garota, assumia um cargo invejado, mas temido por qualquer um: gerenciar a família inteira. Se haviam prosperado por 400 anos é porque alguém, alguém sempre havia assumido a função de líder.
Dezoito anos e ela já estava preparada? Parecia pouco tempo, mas estava. A morte do próprio pai nas costas (ou seria melhor dizer mãos?) e o infortúnio do avô (preso e sem alma) haviam-na preparado. As duas figuras que até então lhe causaram mais medo não sobreviveram ao ímpeto dela. Era mesmo uma pena que as coisas tenham chegado a esse ponto, ela pensou ao deslizar os dedos numa escova ali por cima da superfície de madeira.

Liv.

Retratos. Junkie.

Ele se encostou por alguns instantes na parede de pedra, fechando os olhos e respirando profundamente. Sua aparência era lastimável: estava meio suado, trazia um corte no canto dos lábios que ainda estava manchado de sangue, assim como o nariz também estava. Mas isso não o incomodava. A briga com aquele outro parecia ter sido há séculos ao invés de alguns minutos. Será que havia realmente acontecido naquela noite? Não teria sido há uma semana?

Absorveu o cheiro da rua junto com o ar e ficou, durante alguns segundos, escutando o barulho confuso e desconexo – era assim que tudo parecia para ele no momento – de conversas distantes, dos sons de música abafados, dos movimentos dos bares (a única coisa que funcionava mesmo em tempo de guerra); não que realmente soubesse de onde o barulho estava vindo.


Tateou o bolso do sobretudo para pegar uma carteira de cigarros. Ao fazê-lo, pegou um, colocou-o na boca e acendeu-o. Deu uma tragada e quando afastou o cigarro para deixar a fumaça sair pelos lábios entreabertos, abriu os olhos novamente. Eles se detiveram no cigarro, na ponta que queimava... O alaranjado da brasa parecia mais vivo... Ele franziu a testa, aproximando o cigarro do rosto; admirava a maneira como o filtro era consumido pela brasa para se tornar... cinzas. Sorriu estúpida e lentamente... Fogo. Adorava fogo. A cor vívida do tabaco queimando era... simplesmente... incrivelmente....bela.

Onde ela estava?

O homem sentiu o olhar desviar do cigarro para a rua. Sua visão estava ligeiramente borrada; piscava em flashes repentinos de cores... elas piscavam onde quer que ele olhasse... como se seu cérebro estivesse mais sensível às suas diferentes tonalidades e brilho... e movimentos. E, na verdade, estava.

Algo dourado brilhou à distância. Levando o cigarro aos lábios novamente, o homem deu um impulso para frente para se desencostar da parede. E então, andou na direção do tal brilho dourado.

Lá estava ela, ofuscando as poucas pessoas à sua volta na rua, a melhor vagabunda que ele fudera – e que pretendia continuar fudendo. Os olhos azuis dele se fixaram nela (a garota tinha o rosto virado para o outro lado como se falasse com alguém) e ignoraram todo o resto. Continuou se aproximando – um barulho incerto e abafado indicava música ali perto. Ela fez um movimento com o cabelo, e ele pensou ter visto todos os fios se moverem... Os fios loiros do cabelo dela brilhavam intensamente, mas não pareceram nada perto do aspecto ofuscante do rosto dela quando a mulher se virou. Ele a chamara? Nem se tocara disso.

Parou de andar a alguns passos dela, olhando-a curiosamente. Como nunca reparara naquela beleza? Cegava. A pele branca parecia mais branca; o batom vermelho o fazia imaginar que a boca dela sangrava – a cor quase o agredia, e despertou nele a vontade de morder aqueles lábios. Sorriu. Os olhos azuis dela brilhavam tentando feri-lo ou era só impressão? O sorriso da mulher faiscou antes de se tornar... o quê? Preocupação? Confusão? Algo do tipo. Estava frio ou a ardência que o homem sentia no rosto era por causa de outra coisa... Quê? Ela havia dito que ele se cortara? Que engraçado... uma puta que se importa.

Liv.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Entre tons de laranja e cinza.

A casa era simples, de taipa. Tons terrosos por toda a parte. O lugar parecia longínquo e isolado. O fim do mundo. Um homem sentava no batente da portinha de madeira azul já quase desobotada. Nos olhos escuros, um brilho profundo de quem vivia a vida e de quem era vivido por ela. No rosto, as marcas de uma velhice precoce, marcas das aflições de mil vidas. Aos 33 anos, ele aparentava 47, e já tinha 5 filhos. Dois rapazotes, um já com ares de homem, e duas meninas que se portavam como mulheres responsáveis, embora ainda fossem meninas.

Ele mascava o fumo como já lhe era um hábito desde os 6 anos, e quando olhou para as nuvens soube que a chuva chegaria em uma hora e trinta e um minutos. E um sorriso lhe abriu os lábios rachados, num sorriso de esperança.

Liv.

ps: texto antiguinho que encontrei em meio a um monte de velharia.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Voyer paradise.

A luz vermelha e a música eram... instigantes. Alguém algum dia havia lhe dito: “Pecado é apenas mais um ponto de vista”. Ou talvez tenha lido isso em algum livro desses que vendem em qualquer esquina. Ela se sentava do outro lado do quarto, quando observava os outros se perderem e se tornarem algo... menos humanos. Cruzou as pernas, passou o dedo nos lábios carmim enquanto um sorrisinho irônico demonstrava satisfação. Ela observava, e observava. Suas reações não passavam do sorriso de escárnio, de ironia, de aguda fascinação. Os óculos escuros porém não permitiam que qualquer pessoa visse seus olhos. Estaria ela achando o desejo dos outros algo estúpido? Ou o apreciava como uma obra de arte impressionista?

Liv.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Pára o cronômetro, por favor.

O motivo para passar apenas 7 horas em João Pessoa? Uma visita rápida a duas amigas. Com um endereço rabiscado à mão num pedaço de papel qualquer (o primeiro que achei), fomos atrás de um táxi.

O único taxista que sabia onde ficava a rua era um senhor pra lá dos seus 60 anos e o carro era tão antigo que eu imaginei que ele daria no prego no primeiro sinal. Capas de bolinha de madeira cobriam os bancos da frente; no painel, um ventiladorzinho antigo, e o taxímetro acoplado começou a contar a viagem. O senhor apontava cada coisa de João Pessoa à medida que passávamos por ela: “Ali é o Teatro Santa Roza”, “Ali é o prédio do Correios e Telégrafos”, “Ali é a rua do amor... Olha ali, aquela menina diferente...”. 48 anos de táxi, ele disse. Porém, o endereço não era distante o suficiente para 48 anos de estórias.

Descemos na casa de uma das amigas. Ela me recebeu com um sorriso largo e um abraço apertado de amigos que não se viam há anos, quando na verdade, sequer nos conhecíamos pessoalmente. Cinco anos de amizade e talvez minha tagarelice não permitiram que a estranheza pela situação tomasse lugar. Foi a mesma coisa quando a outra amiga chegou.

Tínhamos 7 horas para fazer algo juntos e o itinerário não foi longo, tampouco complicado: pegamos um ônibus pra ir para praia (com direito à narração turística por parte da arquiteta do grupo). A chuva, que poderia indicar um dia arruinado, se tornou figurante. Na verdade, rendeu risadas por causa de um certo guarda-chuva teimoso.

Três rodadas (ou quatro?) de caipirinhas e caipiroska e a conclusão foi que todas “fazíamos” a seleção da Alemanha, exceto por um jogador. A polêmica foi se fazíamos a equipe técnica ou não. O garçom achou graça. Nós também achamos, garçom. Mas o nosso tempo era contado, então não nos prolongamos no assunto, ainda tínhamos que tirar fotos e só faltava uma hora e meia para o horário em que eu deveria entrar no ônibus.

Passou rápido. Voando, na verdade. Quase chego atrasada. E cheguei bêbada. O momento de despedida não foi triste, foi nostálgico. Abraços e abraços. E fotos e mais fotos. Bêbada, eu entrei no ônibus, bêbada, eu tive um acesso de riso sozinha, olhando pela janela, pensando que tudo pareceu bem mais - e ao mesmo tempo bem - menos que 7 horas de estadia em João Pessoa.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Projeto de pesquisa.

Entre o “tome cuidado” e o “vá em frente”, ela dá um passo para frente e três para trás. Motivo: Racionalidade. O nível de leve embriaguez e desorientação que ela não havia sentido antes desperta nela uma legítima curiosidade comunicacional e sociológica. Pensar um relacionamento em termos acadêmicos parece até mais pós-moderno do que não pensar no relacionamento at all.

O fato de poder dizer o que sente para o causador do sentimento é intrigante. Dado novo que altera no comportamento. Se não somente no dela, talvez no de ambos. Testar reações, através de possíveis hipóteses e provocações lançadas: assumir uma posição científica. Técnica? Observação participante. Base teórica? Todos os relacionamentos que ela não teve e vivenciou, além dos relacionamentos que o tal objeto de pesquisa teve. Talvez seja preciso fazer uma análise comparada. Referências bibliográficas? Mensagens de texto, logs salvos no MSN.

“Mas você vai se manter objetiva?”, pergunta o orientador. Er, chegamos então ao problema real da pesquisa.

Liv.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Boys will always be boys.

Numa conversa com meu amigo/parceiro de fotografia, Caio Bruno, hoje de manhã, a gente estava falando mal de Jesus Luz. Na minha opinião de viciada em editoriais/blogs de moda, Jesus Luz sucks as a model. Mas e aí quem são os modelos que eu gosto?

Aí a lista:

Josh Beech:
Boyd Holbrook (pegava a Omahyra):
Ash Stymest (coleguinha do Josh):
Tyler Riggs (que namora a Suvvi Kopponen e é melhor amigo do Josh):
Cole Mohr:
Todos eles tem tatuagens, e marcam uma nova geração de modelos, acredito. Modelos com tatuagens tão ganhando as páginas e as coleções. E na verdade, nem é só uma opinião baseada em um gosto meu peculiar por tatuagem e aparência meio junkie.

Todos os cinco modelos listados acima estão entre os 25 do top 50 de modelos feito pelo models.com (que é um dos sites da área mais respeitados) que é baseado no número de contratos e editorias que os modelos assinam e aparecem. Enfim, agora, pare e compare com Jesus Luz.

Sobre um cretino III.

O cigarro nos lábios já queimava há alguns minutos. A fumaça que seus lábios deixaram escapar subiu lentamente e se condensou no ar parado à sua frente. Por trás dela, olhos castanhos com um brilho aguçado de pura malícia, e ele sorria um sorriso afiado, safado, completa e terrivelmente despudorado. Ele encarou a garçonete à sua frente. Seus olhos desceram para observar os seios dela que saltavam da blusa. Uma pena que não estivessem à mostra. Encarou-a novamente.
- Você não gostaria de fazer um extra?

Da série: um pouco de Gaiman.


- Sandman, Estação das Brumas, Neil Gaiman.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Punk fail.

E não consigo parar de escutar aqueles rifes sujos de guitarra, e o baixo perfeitamente audível. Heroína na veia? Não, obrigada.

Liv.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Da série: um pouco de Gaiman.


- Sandman, Estação das Brumas, Neil Gaiman.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Da série: um pouco de Gaiman.


- Sandman, Estação das Brumas, Neil Gaiman.