sábado, 29 de novembro de 2008

Porque choro.

Choro porque sou uma rosa frágil na neve - mesmo que o calor de Teresina faça essa afirmação parecer absurda. Choro porque me importo; não consigo ser indiferente. Preciso das pessoas, de afeto, de acarinho de atenção. Porque trago no peito um coração que bate de verdade, que não se aguenta de indignação com o mundo.

Choro porque não consigo lidar com a morte. Choro em catástrofes, por parentes, por desconhecidos que morrem todos os dias. Choro por crianças, velhos, mas não por adultos. Os adultos são maus. Fazem a gente chorar.

Choro quando não vejo algum amigo há séculos. Choro quando vejo pessoas queridas. Choro quando ouço Bon Jovi. E Sonata Arctica. Quandos também são porquês.

Choro. Choro quando não tenho lágrimas. Choro quando as tenho. Choro por msn, por carta, por email, por orkut. Choro como se tivesse sete anos, mesmo tendo vinte. Choro contando até dez para não chorar. Choro mesmo que achem isso uma doença.

Ombros, travesseiros, peitos, pernas, ônibus, bancos. Companheiros de choro. Multidões, pessoa, paredes. Expect-atores.

E quem disse que chorar não resolve é um louco! O sol sempre vem depois da chuva. As idéias sempre vêm depois do choro, mesmo que a gente nunca queira ver e prefica continuar chorando.

Natasha/Tereza

domingo, 23 de novembro de 2008




Porque me calo.

Calo porque sinto que minhas palavras nada podem acrescentar. Gosto que tua voz me toque de longe, em minha ausência. Gosto da sensação macia de cada palavra que sai da sua boca e me toca como se fosse um beijinho. E é tão engraçado como as palavras saem da sua boca. Algumas macias como afagos e outras tão secas como verbetes de uma enciclopédia.

Calo porque gosto do teu sorriso cheio de dentes grandes e bonitos. E tua gargalhada parece ecoar por toda a sala. Me faz querer rir também e gargalhar até engasgar, mas mesmo assim calo.

Calo porque ninguém quer ouvir coisas interessantes. Ninguém quer ouvir aquilo que deve ser ouvido. É muito mais fácil ser fofinha, meiguinha, amado. Calo, calo, calo.

Calo porque desaprendi a falar com todo esse engessamento positivista kelseniano! Calo porque só é possível filosofar em alemão e fazer rock em inglês! Calo porque minha palavra parece ser o abraço.

Abraço...É coisa de gente carente! Abraços de graça, abraços de graça. Abraça e cala. Não há nada pra ser dito num abraço. Nada com metáforas que perderam seu troquel. Respirações e batidas do coração falam por si. A pele fala por si.

Mas nem tudo pode ser transmitido por um abraço. Não dá pra abraçar todo mundo. E nesse sentimento de não abraçar o mundo, mais uma vez, calo.

Natasha

sábado, 15 de novembro de 2008

Eu não sou Sabina.


O amor pode nascer de uma metáfora. Você sabe disso. E mesmo assim você usou uma comparação - metáfora pobre - para falar de nós. Disse que sentia a admiração que Franz sentiu por Sabina quando ela foi embora. Franz não sentia admiração por Sabina. Franz amava Sabina. Você me amava, me fez acreditar nisso e até hoje é difícil olhar pra você sem me sentir desconfortável.

Mas eu não sou Sabina. Você, sim, é Franz. Você é o típico intelectual. Você é atraente. Aparentemente forte, mas fraco. Vive numa relação super estranha com sua namorada, que tal qual Marie-Claude, é como se fosse sua mãe. Você não se sente mais tão bem como ela, mas sente que precisa protegê-la, que precisa prover, ser o homem da relação. Mas você é só um menino. Você só precisava de alguém pra te tirar dessa situação, mas eu não soube ser essa pessoa. Eu não sou Sabina.

Eu sou Teresa. Eu sou frágil. Eu sou fraca. Preciso de cuidados, de carinho. Eu sinto ciúmes, me machuco, me apego. Eu choro. Eu tenho sonhos estranhos e pavorosos que não me deixam dormir de noite. Eu sou insegura. Ando com livros de baixo do braço. Faço parte da sociedade secreta do livro. Eu me apaixono pela pessoa errada.

Como eu poderia te tirar dessa situação? Como? Se eu sou igual a você. Sou seu alter-ego fugidio, ao menos em parte. Agora eu entendo. Franz e Teresa nunca dariam certo. Mas eu queria ter sido Sabina pra te ajudar a se libertar, a cortar teu cordão umbilical. Você precisa ter sua própria vida. Escolher os móveis de sua casa. Fazer sexo com alguma aluna sem se apegar. Você precisava ter me amado pra sempre. Mas eu não sou Sabina.

Não sou forte com precisava. Não sou desapegada e despretenciosa. Não sou artista. Não tenho um chapéu coco. Não sou mulher, sou menina.

Essas são minhas últimas palavras pra você. Seu altar já não existe mais. E eu não sei nada de você. Teresa não conhece Franz, e é difícil agir como se não te conhecesse. Espero algum dia esbarrar contigo e derrubar teus livros no chão, ou que tua bolsa rasgue bem no meio - macumba na bolsa.

"Find the words and talk to me. This could be heaven"

Natasha/Teresa

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Desespero.

- "Waves Of Despair", Regina Lafay

Chega assim, sem avisar. Agonia o coração. Sufoca. Faz o corpo se contorcer, a respiração acelerar, desperta a vontade de gritar.

O grito não sai; ecoa dentro da mente. Sai pelos olhos secos, transforma-se em lágrimas. Elas correm alucinadas pela pele do rosto, vêm com um gemido de dor, chegam aos lábios trêmulos... e esse movimento se repete. E se repete por incontável pranto até então se fazer o silêncio.

A inércia se apodera dos membros, as últimas lágrimas percorrem preguiçosamente o trajeto, como se estivesse tristes por terem sido deixadas para trás.

O desespero transforma-se em apática tristeza: daquele que quer gritar, mas não tem fôlego; daquele que quer chorar, mas que já não sente. A tristeza envolve o corpo, a alma, aquieta o desespero, diz baixinho "Conforma-te".

A tristeza fica. Calma. Muda. Vazia.