sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sobre um primeiro dia.

O silêncio é um zumbido. Falta pouco para as 23h, quase uma hora para acabar o primeiro dia do ano. Olhando pela janela, vejo as ruas desertas, de uma aparente imobilidade, mudas. Olhando para o interior do quarto, vejo os móveis parados - mudos também. Não está quente, logo o ventilador não está ligado fazendo barulho. Eu escuto o silêncio, o insistente zumbido me cala. Ecos de pensamentos conversam comigo de maneira inaudível; os ursos de pelúcia sobre a cama me encaram - surdos-mudos – como se dissessem “estamos sempre aqui”. É o que me dizem também as ruas, o céu escuro da noite, os outros móveis do quarto. Meus companheiros imóveis, calados, mas meus companheiros.

Eles estavam assim ontem, no último dia do ano passado, e estão assim hoje, no primeiro dia do ano novo. Esses dois dias foram iguais. Nada de novo. Nenhuma mudança palpável. Nada. É apenas um outro dia. Passadas as festas, a euforia e a ressaca, tudo volta ao normal. As promessas, feitas debaixo dos fogos ao som de gritos eufóricos (causados mais provavelmente por causa da festa em si e de álcool nas veias) perdem seu charme, deixam de ser atraentes. Perdem suas forças. Promessas são feitas todos os dias. Mais da metade é quebrada na primeira oportunidade. Promessas de fim de ano não são exclusão à regra.

O “esse ano vai ser diferente” repete como um disco ralado. Cansei disso. Cansei de expectativas que crescem morrem, crescem de novo, morrem novamente. Cansei de expectativas. Cansei do “tudo muda, mas muda muito pouco”. Já não me basta pequenas mudanças a passos de tartarugas. São passos lentos demais para uma pessoa inquieta como eu. Quero pegar a tartaruga e jogá-la bem longe. Mas meu desejo de dar grandes passos nasce morrendo: cansei de expectativas. É melhor não tê-las. Entretanto, essa expectativa é insistente: quer surgir o tempo todo, vindo do otimismo e desejos por parte dos amigos, propagandas e programas de TV. A consciência me protege, dá um soco nela: não veja expectativa, para depois se tornar decepção.

Não culpe minha protetora consciência: ela vem de uma mente que sonhou demais e viu pouco do que esperou e imaginou se tornar real. Essa consciência não é pessimista, só cautelosa. O sonho (e a esperança) afinal é como o silêncio: um zumbido insistente, que ora acalma, ora assusta; toma sua mente e não sai enquanto alguém não arrancá-lo.

[É, texto escrito no primeiro dia do ano, que eu vim postar hoje. Bjus, Liv]

2 comentários:

Unknown disse...

eu já desisti de prometer que vou estudar no proximo período ;~
sasausah ;*

ana disse...

eu gostei muito do teu cansaço e da tua tartaruga jogada pro alto.

adorei o texto, e adoraria receber minha liv taylor prum café em copa. introduz essa plano pro teu ano sem previsões..

=]